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NÃO!


Gavin Menzies é um comandante submarinista reformado da marinha britânica. Ele escreveu ‘1421, o Ano em Que a China Descobriu o Mundo’ (Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, o meu exemplar é da 09ªedição, 2014, Tradução de Ruy Jungmann). O livro, passando a sensação de que só poderia ter sido escrito por um marinheiro, alguém que ama o mar e a verdade, desmistifica uma das maiores mentiras ocidentais, o mérito para os europeus, em particular espanhóis e portugueses, das grandes descobertas, negando aos chineses, cuja necessidade política de desmerecer avultou na segunda metade do século XX, todos os méritos.

Peço licença para transcrever:

“(…). Sabia com certeza (Fernão de Magalhães) que não fora o primeiro a atravessar o estreito nem o primeiro a cruzar o Pacífico.

Mais uma vez confirmavam-se as palavras de Frei Mauro: um navio procedente da Índia tinha contornado o Cabo da Boa Esperança e viajado para as “ilhas ocultas”. E estava também resolvido o enigma do mapa de Piri Reis. A Patagonia e o “Estreito de Magalhães” haviam sido desenhados muito antes de Magalhães levantar ferro, mas não por uma civilização anterior à dos faraós, como sugeriu certa autoridade, nem por alienígenas do espaço sideral, como argumentou outro autor, bastante menos erudito, mas por uma grande frota de tesouros chinesa durante os “anos perdidos” de 1421-23.” (Menzies, op. cit., A viagem de Hong Bao, p. 155)

Tudo o que os grandes navegadores chineses fizeram, documentadamente, foi destruído pelos Mandarins. ‘1421’ é um excelente paradigma. Esse e aquele grande povo tem os seus mandarins, e por causa deles cada um vive a sua grande mentira.

O petróleo explodia terra acima no recôncavo baiano, os mandarins subiram o tom e aumentaram a pressão negando a existência do óleo no país, brasileiros de verdade entraram na luta, Monteiro Lobato engajou-se. Ante a evidência inafastável e a disposição brasileira de, mais uma vez, não se deixar enganar, a estratégia mudou; nossas jazidas petrolíferas deveriam ser exploradas por empresas estrangeiras. A luta recrudesceu, um governo para o Brasil posicionou-se, surgiu a Petrobras, que tinha, como tem, de ser estatal num país com grupos de mandarins sensíveis à entrega das riquezas do país. Isso dificulta as coisas para eles. De cerca de um ano e meio para cá, jazidas do pré-sal, na nossa plataforma marítima, entraram na pauta de entregas, bilhões de barris de óleo. O nosso petróleo será explorado por terceiros, produzido a qualquer coisa como 6 (seis), sete (sete), 8 (oito) dólares o barril, que nós recompraremos pela cotação internacional, hoje acima de 70 (setenta) dólares. Esse escândalo nem é mais entrega, é um real estupro do país, tem de ser revisto.

O Brasil é um país economicamente fechado. Nossas exportações não têm futuro, logo, a expansão do nosso espectro industrial, logo, o emprego, não têm futuro. As exportações, esbarrando no teto da incompetência e dos interesses, não propiciando a mais intensa movimentação de riquezas, manterá inibido o mercado interno que, por sua vez, não assumirá o seu papel natural de grande consumidor e motor do consumo, que move a industrialização, o emprego, os serviços e as atividades paralelas e correlatas, disparando a Economia do país. Os mandarins nos querem um país agrário, com um mínimo de indústria e com o máximo de tecnologia obsoleta, importando o que quer compreenda tecnologia avançada. Temos de sair do isolamento econômico regulatório para o campo econômico globalizado, precisamos deixar o primarismo econômico interno e especialmente nosso comportamento selvagem externo para usufruir das vantagens de um comércio exterior civilizado, produtivo e lucrativo, não fazer regra dos acordos regulatórios engessadores, reduzir a rigidez limitadora e ingressar no terreno das práticas sérias e saudáveis, exemplarmente alinhadas nas convenções internacionais do mundo civilizado, afastando desse modo os mandarins, a quererem o Brasil de cabeça e modos grosseiros, como são as suas próprias cabeças e modos. É imperativo desligarmo-nos das nossas origens, nefastas e desonestas, interesseiras e fingidas. Há algum país oriundo do mesmo tronco que o Brasil a ter alcançado padrões gerais aceitáveis, satisfatórios, não apenas em suas elites, mas na população como um todo? Temos alguns bons instrumentos, mas precisamos de mais, muito mais, aos quais apenas chegaremos se afastarmos de nós o cálice da nossa bagagem histórica, dos seus agentes, e nos empenharmos em comportamentos civilizados econômicos, comerciais e gerais, internos e externos. Os mandarins nada têm a oferecer nesse quesito, ainda se querem os donos do pedaço; foram, são e sempre serão capazes de muita coisa feia para manter o statu quo. É urgentemente necessário aprender a dizer-lhes não, deixar de ser o yes-man a quem estão habituados, expressão, aliás,que, como sabemos todos, tem hífen. Sem isso, sem desconstruir o projeto dos mandarins,

continuaremos a ser os selvagens do juízo que sempre fizeram de nós e ampliaremos a Reserva já estabelecida. Ninguém fala dos nossos milhões de desempregados, dos desesperançados da busca do emprego. Isso não interessa aos mandarins, para eles é perfeitamente natural; de fato, “essa gente”, como é da sua expressão, para eles nunca existiu.

O blog publicou na quarta-feira, 28 de Março de 2012:

Temos no DNA a marca do colonizador: viver às expensas da colônia. Já se abordou aqui questões essenciais para o estabelecimento do país como candidato ao desenvolvimento sustentado, duas vertentes bem definidas: a Administração Pública e o empresariado.

Não chegaremos a lugar nenhum com a escassez de mão de obra qualificada, estradas, portos, energia, carga trabalhista e fiscal que estão aí, assim como a muito pouco além do que temos poderemos aspirar se os nossos homens de negócios não implementarem as políticas empresariais necessárias à ultrapassagem dos termos médios alcançados pela nossa Economia.

Está mais do que na hora dos empresários afeitos à prática aposentarem o pires historicamente estendido para recolher as benesses circunstanciais concedidas pela Administração para facilitar-lhes a vida, de seguir o exemplo da indústria do calçado que, em última análise, por questão pura de sobrevivência, partiu para a modernização do seus equipamentos, para a racionalização dos meios de produção, para a adoção de modernos princípios administrativos, para a redução dos custos e melhoria de qualidade que lhe estão devolvendo a competitividade.

Corremos o sério risco de estacionar no patamar em que estamos pela absoluta falta de capacidade de crescer solidamente, com fundamentos próprios. Se e quando os dois lados do Atlântico Norte voltarem ao seu patamar econômico habitual, deixaremos de ser os queridinhos da vez porque todo esse frenesi apenas se manifesta por absoluta falta de alternativa para os grandes capitais internacionais. Pode ser muito dura a volta à nossa realidade. Já vimos esse filme antes.

Nota desta republicação: O blog não tem bola de cristal; aí está a nossa realidade, só não viu quem não quis.

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