JANELAS ABERTAS
Em uma campanha eleitoral não pode haver segredos; democracia é sinônimo de transparência.
Releva conter a escalada da criação de uma presidência desproporcionalmente forte em relação aos demais poderes da República. Há, quanto a isso, impedimentos de ordem constitucional, como há, de natureza extremamente sensível, graves impedimentos quanto ao futuro do país, despontando neste particular, essencialmente, investimentos que não se pautam por simples critérios comerciais e já ultrapassam a casa dos 200 (duzentos) bilhões de dólares num continente onde apenas um país diverge dos demais quanto ao reconhecimento de governos em continentes distantes, trazendo consigo uma mensagem bastante clara: Viemos para ficar.
Considerada essa realidade, o Brasil tem de posicionar-se, fixando-se justamente aí a extrema delicadeza do resultado desta eleição presidencial. O maior e mais rico país sul-americano, rei/rainha no complexo tabuleiro de xadrez em formação, não pode assumir seu papel obrigado por circunstâncias que não compadeçam os seus mais estritos e legítimos interesses, assim como não pode assumi-lo a reboque de governos fortes que desconsiderem sua soberania ou ignore o pressuposto inafastável da concordância da maioria dos seus cidadãos.
São numerosos os lançamentos a débito de países ocidentais no Livro Razão da China; nomes como Astor, Peabody, Perkins, Sturges e Cabot, de Boston, que monopolizaram o comércio do ópio turco, marcam com absoluta clareza e certeza, pela desarrumação causada pela droga à Sociedade chinesa, a origem dos registros e a necessidade de uma guerra para ser controlada.
(William Appleman Williams - The Shaping Of American Diplomacy/Readings And Documents In American Foreign Relations 1750-1955 - Seção Documentos, pgs. 217-224, remetendo a Charles C. Stelle, American Trade in Opio to China, 1821-39. Apud Carl Oglesby)
É oportuna a menção de Julius Klein, Assistente do Secretário de Comércio, Hoover, no Governo Coolidge, que julgou a China completa e definitivamente dominada: “Agora o círculo está completo, a última grande fronteira foi conquistada e chegamos a uma nova era da história da humanidade”. Só que o passar do tempo, Mao e outros líderes chineses que vieram depois não estavam de acordo.
O problema, pois, da América do Sul tornar-se objeto de disputa numa inimaginada inversão de papéis será o Brasil, por suas dimensões, pelo seu potencial e condições de irradiar-se para toda a região, tornar-se campo de batalha. Temos de afastar sumariamente qualquer risco de apoio autoritário às tendências históricas de travar o país para obter proveito estratégico e comercial. Assusta nosso estado de pobreza tecnológica e a longa lista de consequências dele decorrente, a multiplicação de semianalfabetos e analfabetos funcionais por força da demolição da Educação de base pelo anunciado ensino fundamental à distância, o controle do nosso petróleo por terceiros e a alienação da distribuição de energia de modo geral, algo como alguém que fabrica um bom produto, mas não tem como vendê-lo ou entregar, dependendo para tanto de outros, que fixarão as regras, inclusive para quem produz, entre questões outras não menos importantes. Com permissão para a má palavra, o cerne do problema, altamente preocupante, é cabeludo, cabeludíssimo, e está muito longe dos simplismos eleitoreiros de nenhum efeito positivo sobre nossas vulnerabilidades. Repetindo: O combate a corruptos e à violência, que deve ser localizado até mesmo pelo respeito devido ao pacto federativo, não é função do Presidente da República; para isso existe o Judiciário, o Ministério Público e as Polícias. O presidente tem um balaio de coisas muito, muito importantes e urgentes para fazer, assuntos de Estado, cumprindo aos candidatos ao posto definir suas propostas e programas de governo necessariamente em debates públicos nos quais a contradita é elemento de suma importância para o eleitor avaliar o grau de preparo de cada um e a viabilidade das soluções propostas com base no seu convencimento formado pela solidez, extensão, utilidade e aplicabilidade dos argumentos apresentados em consonância com a gravidade dos problemas atuais, desemprego, fome, recuperação e redimensionamento da Economia e que tais, tudo isso sem ódios, ressentimentos e revanchismo, temperado com boa dose de civilidade, respeito e muita grandeza.
Os postulantes precisam demonstrar em debate público que compreendem o sentido das funções por eles pretendidas, a começar pela postura e pela forma de se expressarem. A postulação é livre, mas são necessários atributos especiais para ocupar o cargo, cuja dignidade está alguns passos adiante da dignidade pessoal, que não é favor, senão que obrigação de qualquer ser humano. O Brasil não precisa de um gerentão, precisa de um Presidente.
Há coisas que são como comer e coçar, basta começar, coisas muito difíceis de parar depois de começadas. Há caminhos que exigem certeza e conhecimento prévio de suas possíveis armadilhas; o postulante à presidência tem obrigatoriamente de enquadrar-se na disciplina do consentimento. Partir da premissa de que tudo está errado e que todos são incompetentes e desonestos, exceto ele e o seu grupo, eventualmente composto de adeptos de soluções arbitrárias, é o caminho mais curto para a profunda divisão do país. E um país dividido jamais terá rumo, é irrecuperável.
O alcance destas eleições é imensurável; o voto reclama detida ponderação. A questão principal não corteja a segurança interna, que a segurança jurídica e polícias decentemente estruturadas, pagas e equipadas podem garantir. O que está em jogo e se decidirá no próximo dia 28 é o futuro do Brasil como país e como nação. O que se estará decidindo será se queremos ser os donos do nosso país, se seremos nós, brasileiros, quem nele mandará, se seremos nós quem deterá o direito de decidir os destinos de nossa terra e por extensão se nos reservaremos a faculdade de decidir os destinos de cada um de nós. Afastemos de nossa sorte os servilismos quando, e se, revelados ou patenteados; o servo não tem pátria, apenas obedece ao seu senhor, seja ele quem for.
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