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E VOCÊ?


A década de 1920 foi nos Estados Unidos um período de luta encarniçada entre os defensores do isolacionismo e aqueles que queriam o poderio econômico do país espraiado por todo um mundo onde não haveria obstáculos para o homem de negócios americano. O clima internacional tornara-se absolutamente instável após a vitória dos bolchevistas na Rússia e na Hungria; os isolacionistas queriam cuidar de suas próprias vidas em um Estado fechado, longe das ameaças e desconfortos russos e mais próximo das forças que sustentavam o seu poderio econômico feito poderio político.

Finalmente o presidente Wilson rechaçou o velho colonialismo e passou a combater de todos os modos os nacionalismos revolucionários enquanto buscava apoio interno para adoção como doutrina de Estado da política de portas abertas para reformar a vida política e econômica das suas áreas de influência de acordo com os interesses americanos.

Estabeleceu-se um princípio: Os Estados Unidos viviam tranquilos, sob sua ótica não criaram nenhum problema para ninguém, somente cuidando, internacionalmente, de duas questões essenciais (a) espaço mundo afora para os seus industriais e comerciantes, assentando tal premissa (b) na exportação do seu modo de vida e de sua cultura baseada em maciça propaganda que criava forte necessidade de produtos e hábitos americanos. Nunca se consideraram responsáveis pela desestabilização internacional, a caminho de agravar-se com as revoluções nacionalistas inspiradas pelo bolchevismo, ou comunismo, em expansão. Iniciou-se o confronto, outros atores intervieram no drama, as ações vestibulares da segunda guerra mundial multiplicaram-se.

Historiando, não se encontram novidades. Poloneses combateram na Ucrânia, no Báltico estiveram presentes tanques ingleses e a infraestrutura de combate americana, no norte da Rússia 5.500 soldados americanos e quase 40.000 britânicos sustentaram a oposição aos vermelhos, todos os seus portos bloqueados pelas forças do Supremo Conselho de Guerra. Até que veio 1933 com Hitler recebido de braços abertos por europeus e americanos; era o anticomunista por excelência. Mas algo, subentendido, começou a explicitar-se. O Japão abandonou a Liga das Nações, a Alemanha fez o mesmo, construindo no bojo de um tratado naval com a Inglaterra uma aterrorizante frota de submarinos numa época em que o forte das guerras estava nas marinhas. Hitler não parou mais e ninguém o parou. Veio a segunda guerra mundial.

Terminada a guerra, enquanto a Europa arrasada e mais empobrecida do que nunca procurava de algum modo sobreviver à paz incerta, e a Rússia buscava desesperadamente desenvolvimento econômico, os Estados Unidos emergiam do conflito como a primeira potência mundial e com ascendência econômica e política absoluta sobre todos os países. Voltando à década de 30, com Mao, a China ensaiava o seu deslanche, iniciado no pré e continuado no pós guerra, mas, na esteira de todas as mudanças que se operavam na geografia do mundo e na correlação internacional de forças, a política de portas abertas projetou-se com toda a intensidade. E, se a diplomacia não funcionasse a contento, por que não os fuzileiros?

A América do Sul era um continente isolado, algo pior do que o espaço que começava ao sul do Rio Grande, estendia-se pela América Central e chegava à Patagônia, num país que soubera aproveitar a guerra para enriquecer, literalmente, e manter em sua capital uma Sociedade sofisticada e altiva. No maior e mais rico país do continente, um samba tímido e marginalizado não se sustinha em face do jazz, dos blues, da música americana em geral; consumia-se maciçamente produtos americanos, as lágrimas brasileiras reservavam-se à penumbra dos cinemas e seus filmes americanos, veículos de propaganda do estilo de vida, moda, hábitos e projetos americanos. Até que chegou o século 21 trazendo com ele um isolacionismo explosivo ao norte do Rio Grande e uma contradição de pasmar; no maior e mais rico país da América do Sul, decorridos 16 anos do novo século, a Política de Portas Abertas passou a operar com força total no melhor estilo de quando cuidadosamente inaugurada nos idos do começo da década de 1890.

Uma indústria aeronáutica construída com dinheiro público, que alcançou altíssimo grau técnico e produz aviões modernos, eficientes e sofisticadíssimos, de passageiros e de transporte de carga, além de preparada para absorver e desenvolver tecnologia de ponta para a produção de caças, está por ir- se embora, sugada pelas portas abertas; a indústria petrolífera brasileira, também construída com dinheiro público, com ela a exploração das nossas ricas jazidas de petróleo, está programada para seguir o mesmo caminho. Transformados em súditos de uma republiqueta, habitantes de um país de coitadinhos, compraremos dos outros caças obsoletos a bom dinheiro, quando os poderíamos fabricar com altíssima tecnologia, assim como compraremos dos outros, a preços do mercado internacional, o combustível extraído do óleo do nosso subsolo e da nossa plataforma continental a não mais que oito, nove ou dez dólares o barril.

Eu trabalhei bastante tempo para os caras, aprendi muita coisa boa com eles, muita mesmo, os caras são bons de fato. Acontece que entre as coisas boas que aprendi está a de ser patriota, mas patriota do meu país, que amo e respeito de verdade. Já não se disse que o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil? Logo, porque não aprender e aplicar a lição contida no final da última frase da dicção do senador Henry Cabot Lodge, de 1919, vestíbulo dos anos 20? Transcrevo:

"We are a great moral asset of Christian civilization... How did we get there? By our own efforts. Nobody led us, nobody guided us, nobody controlled us ...

I would keep America as she has been — not isolated, not prevent her from joining other nations for these great purposes — but I wish her to be master of her own fate."

A assimilar ou aprender alguma coisa deles, essa é a lição de um grande americano que deve por todos os modos ser aprendida e assimilada por aqui. Eu quero para o meu país o mesmo que ele quis para o seu país, desejo, especialmente, que o meu país seja o mestre construtor do seu próprio destino. E acrescento, sem a intromissão de ninguém. Eu não tenho vocação para joguete, títere, marionete! E você?

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