EMBRAER
“Não permitiremos um novo Japão ao sul do equador.”
Henry Kissinger
A frase foi requentada, alvo direto o Brasil. A frase original, anterior, alvo o México, disse: “Não permitiremos o surgimento de um novo Japão ao sul do Rio Grande.”
Como o Brasil não fica ao sul do Paralelo 36, compreendeu-se com clareza o amplo sentido da manifestação, é dizer: Não pensem em uma América Latina com progresso material, científico, bélico, com uma defesa eficiente e moderna. Não permitiremos.
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A Embraer anunciou pedidos firmes e compromissos para a família de jatos E2 de dois clientes não divulgados. O pedido firme consiste em dez jatos E195-E2, com dez direitos adicionais de compra para o E190-E2. O pedido firme tem valor de US$ 666 milhões, com base nos atuais preços de lista. A Embraer também assinou um compromisso com outro cliente não divulgado para a venda de 20 jatos E190-E2. O contrato, no entanto, está sujeito à documentação final pelo cliente. O valor desse pedido é de US$ 1,2 bilhão (Nota do blog: Só este último pedido, apenas este, representa praticamente um terço do valor da venda da Embraer). A cada dez segundos levanta voo em algum lugar do planeta um avião fabricado pela Embraer, detentora de 85% (oitenta e cinco por cento) do segmento de aviões até 76 lugares e 29% (vinte e nove por cento) do mercado mundial de aviões de passageiros de até 150 lugares. (Dados extraídos do Relatório do Balanço Anual de 2017, à disposição do público no site oficial da empresa).
Três bilhões e oitocentos milhões de dólares é uma soma apreciável, não? Como se vê, depende!…
A desnacionalização da indústria brasileira chega a ser assustadora, mas, detalhe, quando a empresa absorvida por uma empresa estrangeira produz eletrodomésticos não se cogita de golden share. Por razões óbvias. Eletrodomésticos são apenas eletrodomésticos. Introduz-se a cláusula golden share numa operação delicada, quando o interesse e/ou a segurança nacional estão em jogo, em especial quando se trata de privatizações e o Congresso é naturalmente envolvido pelo fato de tratar-se de bem público em que as alienações não podem ser feitas a bel-prazer da Administração, à qual é vedado dispor a seu exclusivo critério, ou falta de, do bem pertencente à toda a nação. Privatizada a empresa estatal de área sensível — típico sensitive case—, e constituída a Golden Share, o Estado tem poder de veto ou de impor condições nas negociações de transferência do controle acionário, notadamente se entabuladas com empresas estrangeiras.
O simples fato do Estado Brasileiro ser um Golden Shared Ownership formal de dada empresa
desmonta qualquer possibilidade de considerá-la uma empresa particular como qualquer outra do ramo privado; tal empresa não pode sentar-se à mesa com uma empresa pretendente à sua compra ou controle acionário como se se tratasse de negócio particular entre duas empresas sem qualquer traço da presença estatal, a ser decidido segundo os melhores, ou piores, interesses dos envolvidos. Golden Share corporifica o interesse do Estado, por extensão o interesse dos seus cidadãos, da nação, hipótese em que o interesse público é patente. Em tal hipótese, o Congresso tem de, necessariamente, intervir para que bem se fixem os termos do negócio e se preservem os interesses estratégicos e da segurança nacional, que não se podem colocar exclusivamente nas mãos da Administração.
A questão do acordo Embraer/Boeing está mergulhada em sombras. Este artigo compreende-se em linhas gerais; a explicitação da matéria requer um livro ou, pelo menos, novos artigos.
O Ministério Público do Trabalho quer garantias de que os empregos continuarão no Brasil, Embraer e Boeing calam, recusam manifestar-se formalmente. O KC-390, uma joia de tecnologia destinada precipuamente ao transporte de natureza militar e ao abastecimento de aeronaves em voo, caças inclusive, está sendo envolvido nas negociações como se fosse um avião comercial pura e simplesmente. A FAB investiu 5 (cinco) bilhões de dólares em seu desenvolvimento e encomendou 28 unidades do avião, com previsão de entrega, já,das duas primeiras unidades. O avião é produto da Embraer Defesa e Segurança, uma empresa distinta, e está sendo produzido na fábrica de Gavião Peixoto, construída em polo aeronáutico no Estado de São Paulo, cuja Prefeitura depende diretamente de suas operações para alavancar o progresso da cidade, o nível e qualidade de vida da população. Portugal e Nova Zelândia já demonstraram interesse efetivo pelo avião, cujo planejamento industrial e comercial projeta uma capacidade de produção e vendas a ultrapassar as 700 unidades nos próximos 20 (vinte) anos.
Airbus comprou parte de Bombardier, canadense; a fabricação dos aviões do negócio será nos Estados Unidos. Não é despropositado prever que os empregos da Embraer migrarão para aquele país, fechando no Brasil perto de 30.000 (trinta mil) postos de trabalho diretos e indiretos, além de tirar do país uma montanha de dinheiro proveniente dos impostos sobre os negócios da empresa, bem sucedida desde a fundação, uma empresa estatal altamente profissionalizada. A considerar ainda os pedidos em carteira e o fato da Embraer Defesa e Segurança estar definitivamente engajada no Projeto FX-2.Em fevereiro de 2014, A EDS iniciou contatos com a sueca Saab para discutir uma eventual participação no desenvolvimento e cadeia de produção das 36 aeronaves Gripen NG, previstas no projeto F-X2, de renovação dos caças da Força Aérea Brasileira. Em julho de 2014 foi assinado um memorando de entendimento com o objetivo de uma parceria entre Embraer Defesa e Segurança e Saab no projeto. Em 22 de novembro de 2016 foi inaugurado na EDS o Centro de Projetos e Desenvolvimento para a montagem e testes finais dos caças no Brasil. 36 aeronaves serão montadas na unidade entre 2019 e 2024 (dados colhidos no site da Embraer Defesa e Segurança).
As condições do mercado internacional apontam que a EDS poderá vender tantas unidades do KC-390 quantas possa produzir. A empresa e seus produtos, o investimento da FAB no projeto e a independência da Arma na produção do seu equipamento de voo têm de ser preservados. Ora se fala na linha de aviões comerciais da Embraer, ora se fala apenas nos aviões de 75 a 110 lugares necessários à Boeing para enfrentar a concorrência da Airbus, mas percebe-se uma quase sorrateira tendência de envolver o KC-390 nas negociações; as coisas estão positivamente obscuras. É preciso transparência total nas negociações com a Boeing, mas, acima de tudo, é preciso considerar com ênfase maior que será com o lucro total de suas operações, especialmente na linha de jatos comerciais que a empresa, líder absoluta nos segmentos de mercado que disputa, se habilitará para os grandes projetos científicos e de defesa que a segurança do Brasil e seu processo global de desenvolvimento sustentado requer.
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