LIBERDADE DE IMPRENSA, PREVIDÊNCIA, ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO. MARIE-ANNE/JEAN-PHILIPE
Republicações parciais — Revisto o primeiro bloco
Não estranhe; começa com a Câmara dos deputados por ser uma republicação. Vá até "Atualizando"; ali, o texto alcança os dias atuais.
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É oportuna a reflexão nestas vésperas de apreciação pela Câmara dos deputados da reforma da Previdência. Do artigo passado extraio que só o fato provado espelha a verdade, é seu alter ego, consubstanciado com uma verdade da razão, juízo inato da razão independente da mera constatação, que exprime a veracidade absoluta, universal e necessária; de outro lado, há uma meia-verdade posta em tela, apenas ilidível por demonstração muito clara dos seus termos mais exatos e completos. E essa demonstração só poderá ser feita por um único veículo, o balanço abrangente e auditável das contas de Previdência, que não é uma solitária, nem maior, vilã do déficit das contas públicas federais. Onde entram nessa questão os enormes débitos dos exponenciais devedores da Previdência, empresários de todos os ramos de negócio? Já temos o exemplo do parcelamento “aliviado” do FUNRURAL , já temos..., já temos..., já temos… E continuamos tendo.
A população brasileira, a Câmara, o Congresso, não precisam de dúvidas, falatórios, já os têm em demasia; precisam de números. Verificáveis.
Atualizando: O Senado está promovendo o equilíbrio estável, ponderado, prudente da PEC, imprimindo-lhe harmoniosa correspondência de efeitos com as suas 483 emendas que corrigem a perturbação passageira do início, como convém à Câmara alta da República
Aí está uma das belezas da democracia republicana, o equilíbrio dos três poderes haurido do sistema de compensação de atribuições a cada qual contempladas pela Constituição Federal, cuja autoridade, nesses tempos confusos e instáveis do Brasil — de manifestações repetidas que só fazem desestabilizar —, é continuamente desafiada. A propósito das belezas da democracia, tem-se que o interesse público prevalece sobre o privado e aos de grupos, privados ou não, hipótese em que a imprensa tem papel decisivo no aclarar de acontecimentos que às vezes o assediam. O Estatuto da República é muito claro e definitivo quando assegura liberdade de imprensa e de expressão. As dicções a pretenderem anular tais princípios básicos das Sociedades civilizadas não são bem-intencionadas. O jornalista, observados os limites constitucionais e legais, e a reboque dos cuidados necessários de verificação do que publica, não tem de se justificar, pois faz o seu trabalho, tão somente, e cumpre o seu múnus; quem se sentir agravado pelo que divulga deve recorrer às medidas cabíveis também garantidas pelo Estado Democrático de Direito para manifestar seu inconformismo. O que quer não configure medida legal em sede própria revela insofismável pretensão de censura e intimidação, que não pode assustar a nenhum profissional consciente do trabalho que executa. Censura é impensável, a Constituição Federal é também muito clara e direta nesse sentido. Discussões estéreis e desnecessárias são apenas meio de confundir, promover insegurança. Não à toa, a produção industrial caiu, conforme dado a público, pelo terceiro mês seguido.
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Marie-Anne e Jean-Philipe
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—Desde sempre, respondeu ela.
—Quando é desde sempre? Insistiu ele.
—Desde sempre é quando ocê num era, nem eu, quando Deus nem tinha ainda feito o mundo, nós era Ele e a gente vivia na graça, só Nele.
Aquela era uma rara forma de manifestação da misteriosa mulher, tão humilde, aparentemente (…) em tais momentos seu corpo empertigava-se e ela traía um porte altivo, um olhar penetrante, cheio
de sabedoria.
(…)
Os borrões passaram a vultos, depois a pessoas de rostos sorridentes estendendo-lhe os braços, chamando-o. Vicenza retirou a mão, as imagens desapareceram, o torpor se desfez e ele (…)
(…)
Adriano reagiu instantaneamente. (…)
—A maré está levando o barquinho!…
(…)
E tudo aconteceu. O peso da água, mais o peso do menino do mesmo lado do caiaque, viraram-no, atirando-o no mar de águas muito frias. O choque foi doloroso. (…); estava lúcido, e ele próprio, em meio à sua tragédia, surpreendeu-se pela calma com que aceitou os fatos: Iria morrer.
(…)
De pé, sobre o castelo de proa da baleeira, aparentemente não percebida por mais ninguém, Vicenza sorriu-lhe calorosa numa reverência sublinhada por leve e quase imperceptível inclinar de cabeça. Perdeu os sentidos.
(…)
O menino precipitou-se pelo corredor, atravessou a cozinha num salto e saiu pela porta de trás em direção ao caminho que levava à praia, deixada livre pela maré baixa, gritando em desespero o nome da velha mulher. Correu o que pode na direção da Praia do Sudeste, a chuva, que voltara a cair forte, batendo e doendo-lhe no rosto, tirando-lhe o fôlego. Esgotado ainda pelo longo esforço da tarde no mar, caiu de joelhos junto à grande pedra incrustada no morro, que delimitava daquele lado o pequeno recôncavo. Com um movimento do corpo para trás, sentou-se, cabeça baixa, mãos de dedos entrelaçados em volta dos joelhos, a testa neles apoiada, dizendo, alheado de si, em transe de intenso sofrimento, num murmúrio entrecortado de soluços:
—Vicenza, por que você fez isso comigo? Por que você foi embora outra vez?
E sozinho, sentado na areia fria da praia deserta e escura chorou baixinho, agora abraçando os joelhos nos quais apoiou o queixo, o corpo cansado e tiritante de frio, sob a chuva que caía fustigando-lhe o rosto e lavando-lhe as lágrimas.
[ONAIR NUNES —A CONSPIRAÇÃO DOS MEDÍOCRES/O REENCONTRO (MARIE-ANNE E JEAN-PHILIPE)
PUBLICADO AQUI NO BLOG EM 08 DE FEVEREIRO DE 2011]