MARIE-ANNE E JEAN-PHILIPE
(...)
Assim Adriano a reencontrou sem percebê-lo de logo, existências percorridas em busca inconsciente, tendo-a, vendo-a aqui e ali nas dobras do tempo, para, por razões que nunca estiveram sob seu controle, perdê-la e reencetar a procura. Jamais fixou-se em qualquer mulher, embora os seus relacionamentos estáveis; algumas vezes sentira pronunciado carinho, mas sem a verdadeira dimensão do amor. Conhecera mulheres excepcionais, mas não as amara.
Viu-a uma vez e imediatamente aquela irresistível ligação estabeleceu-se entre eles; enquanto conversavam, algo vagamente familiar (...), outra vez, uma dilacerante sensação o invadiu, rompendo-lhe (...). Ainda uma vez, e a luz derramou-se; ele pressentiu sua Marie-Anne. Em casa, naquela noite, entre exultante e cauteloso, relaxou e mergulhou em profunda regressão; imagens, lugares onde não se queria deter, rostos de pessoas a quem não queria encontrar.
Percorreu existências, uma, duas, quatro, cinco noites. Na sexta tentativa viu-a num relance descendo do cabriolé no largo apinhado de gente murmurante e consternada. Mais algumas tentativas e, na confluência de duas variantes pluriseculares, lá estava aquela grande praça pavimentada de pedras, ele apertando-a contra o peito e afagando-lhe os cabelos negros manchados de sangue, a pele moura do rosto lívida, exangue, os olhos mortiços, sem brilho. Sim, era ela!
Penetrou um remoinho calidoscópico numa sucessão vertiginosa de sensações indefiníveis. Despertou, afinal, permanecendo imóvel, deitado de costas em sua cama, já longe,na madrugada, até adormecer.
E então amou-a com delicadeza, ternura e desejo.
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