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NÃO NOS RESTAM ALTERNATIVAS

ACABOU-SE O TEMPO PARA ACADEMISMOS E MANOBRAS DIVERSIONISTAS. ENTRAMOS EM OUTRO TEMPO, O DA EXPERIÊNCIA, DAS MEDIDAS NECESSÁRIAS E DA EFICIÊNCIA.

OU NÃO TEREMOS TEMPO PARA MAIS NADA, SENÃO PARA O DESASTRE.

São recorrentes os temas econômicos suscitados pela angústia da anormalidade global provocada pela pandemia, entre eles, em momentos diversos, como matéria de estudos, o capitalismo em suas várias formas. Para começo de conversa, capitalismo é como cocada; amarela, “queimada” ou branca, todas têm a mesma forma e sabor, com ligeira diferença na cocada preta, que aqui entra como Capitalismo de Estado, já rotulado de comunismo, e como designação de reinados ilusórios. O tema, digressão acadêmica característica, tem por astro incontestável o capitalismo liberal, pretendendo-se deste uma vertente, o capitalismo “meritocrático”, puro pedantismo e extensão manipulada de uma ideia comum. Teorizações sobre capitalismo, especialmente sobre o capitalismo liberal, são, de fato, exercícios de retórica.

O capitalismo, como derivação da Economia Capitalista, é uma criatura bem terra a terra, não exibe nenhuma propriedade acadêmica e labora sempre no sentido de produzir algo comum a todas as suas denominações, o lucro, seu objetivo fundamental, cruamente convolado em dinheiro, sua alma, que se propaga, um produto necessário de uso geral. É impossível falar do Capitalismo sem falar do Capitalista clássico, para quem a ideia central de sua atividade é o lucro justo por meio da concorrência, que faz o mercado e legitima o Capitalismo. Esta é, contudo, uma imagem idealizada. Duas observações determinantes: O Capitalismo em geral nunca se preocupa com a natureza do seu lucro, se é justo ou não, ou se é fruto da concorrência; para operar na plenitude precisa apenas de infraestrutura econômica, a formação da concorrência não entra em seus cálculos ou considerações, prevalecendo em qualquer hipótese a ética do mais alto lucro. O Capitalismo é de irreprimível índole multiplicadora e, muitas vezes, não se detém em elucubrações morais ou escrúpulos.

Voltando-nos para o mundo em que vivemos, a perspectiva é preocupante, sendo certo que é nesse mundo que o Capitalismo terá de operar nos próximos anos. Os ciclos econômicos demolidos pelo vírus, a redução do comércio mundial e a consequente redução da produção trazem em seu bojo o desemprego maciço com as resultantes da pobreza extremável à miséria, efeito que se alastrará por resultado do Globalismo, cujo modelo, como adotado, não foi bom para ninguém. O comércio internacional tornou-se predatório, com as Economias de salários miseráveis e primitivas condições de trabalho operando externamente com custos baixíssimos e concorrência a beirar a deslealdade, estimulando as desigualdades que reduzem parte da humanidade a vidas degradantes e injustas.

Os mercados internos, notadamente dos países com estrutura industrial, qualquer seja o sacrifício exigido, têm de ser recuperados para constituírem-se polos de consumo num primeiro momento e depois bases produtivas que criarão empregos, por sua vez geradores de renda e consumo a puxar para cima a produção, estendida para além das necessidades locais, restaurando as vias do mercado internacional e inaugurando um trabalho de longo prazo com vistas ao comércio exterior. Embaixadores têm de se tornar vendedores e as Embaixadas transformarem-se em escritórios comerciais por trás dos quais deverão estar todas as forças produtivas de cada país.

Por aqui, temos de buscar recursos onde quer estejam. Nosso Capitalismo de Estado, anjo bom dos subsídios aos empresários, acentua desigualdades, que não são pequenas; os setores responsá- veis, inertes quanto ao volumoso débito empresarial com a Previdência, o que, no mínimo, dobra o valor das aplicações de dinheiro público em tal segmento econômico, concorrem para o não retorno de nenhuma espécie dos investimentos feitos. O governo federal despeja recursos nas Empresas que, além de não oferecerem contrapartida, não cumprem suas obrigações previdenciárias e ainda demitem, transformando-se em elemento complicador ao invés de ser parte da solução dos nossos problemas estruturais. O modelo atual de relacionamento governo/empresários precisa ser revisto e um plano “B” necessita ser formulado para prevenir retaliações como desabastecimento ou demissões em massa, por exemplo. Isso pode ser feito. Paralelamente a retomar as atividades, temos de recuperar a atividade industrial sob o controle governamental, controle, não ingerência, não podendo ficar de fora a elaboração de um plano industrial para o país. Disciplinar as indústrias é tarefa indeclinável e inadiável do Governo Federal.

Nosso grande problema é político, consequência direta do poder econômico, sem deixar de lado o nosso atuante mercado da instabilidade. Não formamos, não temos, uma consciência econômica, elemento administrativo dos mais relevantes; o planejamento é gerado e nasce de suas entranhas.

Nossa Economia é também essencialmente política e a Administração, de certo modo, refém da Classe Empresarial; sem mudar esse quadro não alcançaremos a estabilidade e as condições sob as quais nossa recuperação econômica deverá ser buscada, corrigindo-se no ínterim os subsídios e procedendo-se à realização dos créditos fiscais que, por motivos desconhecidos, não inscritos na dívida ativa ou não executados eficientemente, acabam perdidos, uma outra forma do dinheiro dos impostos e contribuições obrigatórias beneficiar Empresas e modo perverso, como são todos eles, de transferência de recursos pobres → ricos que alarga o enorme fosso já existente entre eles. Por constituir objetivo fundamental da República, o Artigo 3o da Constituição Federal precisa ser melhor estudado e aplicado. Em função dos nossos pecados administrativos e sociais históricos, não nos recuperaremos jamais se as matérias de que trata o dispositivo constitucional não forem adequadamente equacionadas e transformadas em políticas de Estado, não de Governos.

Passa por esses caminhos a tomada de posição quanto à minoração dos efeitos da pandemia. Quem estiver bem fornido de recursos, os beneficiários de robustas e desiguais aposentadorias públicas, aqueles que tiveram dinheiro para prevenir as doenças e a velhice não terão problemas maiores, mas o povo em geral estará sozinho, entregue a si mesmo, como já acontece. Essa tragédia nacional que atinge algo como 50% da população está esboçada.

O tempo é curto, não precisamos de uma guerra santa, o púlpito está manchado pelas mortes desnecessárias de milhares de brasileiros. Nossa pandemia assumiu caráter político, nosso dia a dia é político, nossas relações pessoais perderam-se em insuportável negror político. Perdemos os limites, estivemos à beira de uma “revolução cultural” cujo estofo terá sido e ainda é a nossa cultura da violência. Lamentavelmente as portas do inferno ficaram entreabertas.

Nunca estivemos tão em face de nós mesmos quanto agora; cabe à parcela consciente da população agir, a Constituição Federal numa das mãos, os Códigos Judiciários na outra. Não nos restam alternativas, temos de construir um outro Brasil, temos de nos transformar como nação ou não vislumbraremos sequer a oportunidade de viver num país ainda que medianamente civilizado, bem menos cumprir essa obrigação, que é de todos nós, dívida que temos com o Brasil, que nos pertence, e com os brasileiros do futuro a quem o seu país não pode ser negado.

 

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