A VACINA
A VACINA
NÃO SÃO POSSÍVEIS OUTROS TEMAS, SERIAM APENAS DERIVATIVOS. O GRANDE TEMA É A VACINA.
PUBLICADO EM 18.12,20
Não compomos um sistema de referências integradas, somos um caos no qual se defende a vida pondo-se ela mesma em risco no teatro de uma guerra surda e surreal, enquanto se acalenta a morte a partir de salões dourados e perfumados. Por que já morreram 185.000 patrícios? Se não foi pela ação dessa criatura demoníaca e invisível, por que foi? Todos gostaríamos de saber para não morrermos como eles, os nossos 185.000 patrícios. Essa criatura demoníaca e invisível não representa perigo? O que matou os nossos 185.000 patrícios, então?
“Doutor, não me deixe morrer”; esta frase não foi ouvida de um burocrata ou por um burocrata superprotegido em suas regalias, especialmente médicas. A atriz de humorísticos morreu à espera de uma vaga em UTI; os burocratas não têm esse tipo de problema. E, o mais cruel, muitos dos anjos bons que salvam vidas estão morrendo ao defendê-las por princípio, juramento e vocação. E, se não morrem, quando não as podem salvar, sofrem moral e emocionalmente. Nossos jovens e sêniores anjos bons, que tesouro!
E sofremos todos na angústia da miragem de uma vacina tão próxima e tão ilusória, que não nos chega. Para o Chile já chegou. Se a lei abriu a brecha emergencial, por que a hesitação? Não se aguenta mais ver nossa gente morrer. E em números crescentes! Ontem desenhou-se uma mudança de posição; que razões outras não se interponham, estamos a ponto de nos faltarem as lágrimas de dor, de saudade, de decepção. Celebrar a vacina em data festiva não é o ponto. Nem a vacina é de ser celebrada, nem se pode perder o foco. A vida, ela sim, há de ser celebrada, a vacina é um instrumento da ciência, altamente competente e ágil. A menos de um ano do início da matança os cientistas nos colocaram nas mãos a solução, o modo de cessa-la. Sequer um dia, um único dia deveria ser perdido.
Não se tem a quantidade de seringas e agulhas necessárias, usem-se as que se tem. Porque não se tem material para vacinar dez mil pessoas, vai-se deixar cem, duzentas, mil a descoberto? Que seja vacinada uma única pessoa, a vida humana é inestimável, numa só vida todo o Universo.
É preciso de qualquer modo estancar a sangria de vidas, deixar para lá quem, confuso, perdeu a perspectiva. Há ainda tempo de não cairmos na armadilha de Macbeth, que decidiu poder perfeitamente continuar matando porque já tinha muito sangue nas mãos; a partir daí nada faria diferença.
Para entender o que está acontecendo no Brasil, ou pelo menos tentar entender, sugere-se dar um passo atrás. Não há efeitos sem causa. Queira ver os artigos De Repente, Vestais, de 8 de Março de 2017; Arrematando, Explico, de 12 de Fevereiro deste ano, 2020; Uma Grande Brincadeira, de 11 de Março deste ano, 2020; A Física Explica, de 18 de Março deste ano, 2020; e Momentos, de 22 de Abril deste ano, 2020.