ALEA JACTA EST
Os executores de projetos, conquanto cumpram o seu papel, não se têm de adorar. Mesmo o respeito mútuo e formal dá guinadas pronunciadas ao sabor de construções pessoais.
Os dados foram lançados. Quem não entendeu até agora não entenderá nunca. Somos todos, por sermos cidadãos da Urbe, jurisdicionados do Senatus. Cruzar “um” Rubicão é desafiar o Senatus e a Urbe. Tomemos posição do lado de cá do fio d’água os cidadãos ordeiros e de bem, o raio não pode cair duas vezes no mesmo lugar. Ou somos, de fato, maricas? Ou instrumentos do caos e de seus profetas? Ou foras-da-lei?Ou os operários dedicados que portam as tábuas da lei?
O blog falou algumas vezes do projeto de poder de longo prazo que se veio acentuando com o passar do tempo, o produto das eras, de pé sobre a nuvem apocalíptica, atirando suas foices mortais, destruidoras, impiedosas. Reproduz-se a seguir artigos de Setembro de 2015. Meditem-se sobre eles, considerem-se os desdobramentos previstos e projetem-se o que pode vir. É muito infantil essa coisa do eu não disse? Eu não falei? Não é questão de profecia, mas de análise. Não é favor, nós nos oferecemos, ninguém nos pediu nada.
Quando alguém diz “o meu país”, não está significando o espaço físico nos limites de suas fronteiras. A expressão é abrangente às Instituições, à bandeira, à Constituição; traz em si a família, pai e mãe especialmente, os irmãos, os amigos, as esquinas da juventude e das primeiras experiências, todos os conterrâneos e compatriotas, colegas de infância, de colégio, sua gente, afinal, suas esperanças, seus filhos e netos, eventualmente ainda não nascidos. Está falando do seu chão, da certeza de não precisar do chão de ninguém porque tem o seu próprio, que, se não for bom, ou não estiver bom, poderá ser modificado com sua paciência, seu talento, seu esforço, sacrifício, mesmo, sua honestidade pessoal, os olhos postos na ordem legal e constitucional nos tempos que virão e poderão ser de mudanças, assim o exijam as circunstâncias, assim entenda quem tem a arma adequada para isso. Estou falando do voto, o instrumento exclusivo e decente, válido e honrado existente para mudar conceitos, ideias e métodos em uma democracia, único sistema de governo que permite, mesmo, dela falem mal, e até a tentem destruir, porque o verdadeiro democrata não teme o confronto de ideias, a grandeza da liberdade e o império da lei.
Tem gente confundindo as coisas; tem gente fazendo-se de desentendida para subverter a ordem e comprometer os valores democráticos, as Instituições, a própria Constituição, que pode propor mudanças em seu texto, mas não o faz porque prefere a baderna, a bagunça, águas turvas nas quais possa lançar sua linha com alguma chance, a chance da subserviência, do conluio, da conspiração, elementos dos incapazes com a abjeta vocação do bridão. Há quem não saiba ser livre, há quem não goste de ser livre, há quem deteste a liberdade dos outros; liberdade requer algo muito especial, rarefeito. Contracenavam Denzel Washington e Bruce Willis, seus personagens discordavam em questão importante. O personagem do Sr. Willis perguntou:
― Você está duvidando do meu patriotismo?
― Não, eu estou duvidando é do seu equilíbrio, respondeu o personagem do Sr. Washington.
(As palavras na tradução brasileira podem não ter sido fielmente estas, eu estava acompanhando o diálogo no original, abstraídas as legendas)
Há funções que exigem de quem as exerce, além de patriotismo, o equilíbrio sem o qual certas prerrogativas dos cargos exercidos podem contribuir para colocar em risco valores inestimáveis, a Constituição, por exemplo, que não comporta ser institucionalmente desrespeitada, renegada, notadamente de modo grosseiro. Renegá-la, ademais de quaisquer considerações, é faltar ao respeito a tudo aquilo que a expressão “o meu país” traz em seu bojo.
Jamais confie em quem renega o próprio país.
O desenvolvimento econômico tem seus limites e condicionamentos, um deles, enunciado por Thomas Robert Malthus, primeiro professor de Economia da História, angustiante:
A capacidade de multiplicação das populações é indefinidamente maior do que a capacidade da terra de produzir comida para o homem.
A tecnologia pode ajudar nesse quesito, mas ela não está de modo nenhum à venda ali, na primeira esquina, ou em qualquer outro lugar, salvo as mais corriqueiras. As tecnologias realmente valiosas são reservadas para um futuro à vista, perfeitamente previsível, quase deparável. Muito mais do que de ordinário se propaga, as Economias mais avançadas estacionaram pela ausência de meios para se expandirem no ritmo do crescimento das suas populações; não se fala aqui, de início, em falta de alimentos, mas da impossibilidade de manterem o padrão de seus povos e isso gerará consequências, chega, mesmo, a parecer um caminho sem volta.
Os países de grandes Economias não estão acumulando tanto poder para nada.
O problema não é localizado, nem pretérito, os estragos de 2008 ainda batem à porta. Foi um sinalizador. Há riscos de uma idade de trevas provocada por desacertos econômicos globais e seus imprevisíveis desdobramentos? Há, concreta e definitivamente há.
Falando claro e recusando a falaciosa justificativa de que a verdade provocará pânico, a Economia ocidental como um todo já está em estado de pré-insolvência, alguns países já estão tecnicamente insolventes. Independentemente do que possam manifestar as Agências de Risco, e as há com o passivo da eclosão da crise de 2008 — não se podendo deixar de perceber na matéria acentuado sabor político —, os seus títulos já não têm valor cheio; com o passar do tempo deverão ser negociados com forte deságio. Mantendo o exemplo, há dinheiro para adquiri-los, com algum esforço, mas há. Reduz-se a dívida de 1 PIB em um terço ― à metade, quem sabe? ―, tornando-a administrável; tudo ficará bem em casa, mas, e os outros? Bem, os seus países são problemas deles; um país não tem amigos, tem interesses, lembra–se? Como aconteceu ao fim da segunda guerra, haverá uma consequente perversa: Emergirá da crise global um poder econômico mundial absoluto e muito bem armado que canibalizará naturalmente, de formas diversas, as demais Economias, um poder muito sensível ao mercado, com a experiência de um século e um quarto em domesticá-lo e colocá-lo a seus pés, cheio de encantamento, cativo e feliz, somente três grandes Economias, além delas uma outra, igualmente bem armada, embora nem tão forte economicamente falando, e outras em formação, essa e aquela já não mais em estado incipiente, 4 potências hegemônicas, uma continental, o domínio econômico absoluto direcionado para o domínio político, viés de poder que produzirá dominação cultural, ressentimentos, ataques e ódios, uma torrente de retaliações, todo o resto periferia em um mundo convertido em barril de pólvora com estopins diversos em condições de explodi–lo. Isso não acontece da noite para o dia, é um processo, longo, que pode muito bem já se haver iniciado.
Sinistrose? O mundo estará saudável se analisado sob o prisma econômico/social? Há reais perspectivas de recuperação, quer sob os pressupostos da teoria econômica, quer de acordo com o panorama descortinado? As populações aumentam sem parar, grandes cidades de países fortes em pedaços, populações se evadindo, remanescendo guetos de luxo, senhores respeitáveis postulando cargos de poder sob o argumento da construção de muros, concreto, para deixar do lado de fora, de uma vez, e já, quem simplesmente está lutando para sobreviver, a medida em si não surpreendendo por apenas materializar uma tendência, mas a declaração final e expressa de que os outros não importam, absolutamente, o drama dos refugiados na Europa dispensando comentários mais extensos. O clima parece ser de salve–se quem puder, e isso não é bom, nada bom!
As Economias menores precisam preparar seu futuro, fazer o esforço e o sacrifício que houver de ser feito para se associarem, criarem seu próprio sistema de financiamento, como BRICS, porque, no quadro que se desenha, não terão vez, dignidades literalmente à venda em troca de financiamentos, de dinheiro, do que comer. Perscrutemos com cuidado o que temos à frente e tenhamos olhos para ver que o mundo está lidando com gente competente no que faz, um plano de longuíssimo prazo executado com paciência, sem medir sacrifícios, uma linha traçada e seguida com rigor e nenhuma complacência. Como escrevi, quando o macaco desceu da árvore para se fazer humano levou com ele a lei da selva, que o orientou em sua caminhada em direção à civilização, deixando pelo caminho apenas bocados de sua selvageria. A lei da selva está sendo aplicada com frequência, intensidade, fúria e indiferença crescentes.