COBREMOS DEFINIÇõES
Onde pensas tu, criatura, poder chegar com essa tua prática promíscua, igualando-te ao que há de mais sórdido na espécie humana?
E se a ti quiserem destruir com as mentiras com que tentam destruir a outros que não lhes convolam a dignidade em servilismo, esse servilismo que bem conheces, cúpido e interesseiro? O que farás, fugirás? Homens e mulheres honrados não temem a mentira, essa sequiosa prostituta que não se sustém por si, servindo-se da fachada da respeitabilidade para transitar pelo mundo luminoso das gentes limpas e defraudar-lhes a confiança. É com ela que pactuas? Pobre de ti!
Não és livre. A Liberdade só é possível a quem não se apequenou ou comprometeu por servir a interesses menores, não cedeu à arrogância. liberdade não desafia formatações; ela é, ou não! Seres humanos decentes e verdadeiramente livres desdenham a liberdade concedida, uma vilania, pois não está em ninguém, em nenhum grupo ou entidade suprimir ou conceder liberdade. O único limite para a liberdade humana é a lei.
Já se sabia o que viria, lida-se há tempos com isso. Uma ofensiva. Causa espécie o terror que são os livros para os mentirosos e dissimulados, para os de temperamento impositivo e arrogante. Não se atirou carapuças ao ar; o blog não trata de pessoas individualmente, mas sempre de fatos. Se essa ou aquela pessoa, por interesses menores, se pretende tutelada pelo noticiado, está na verdade presa ao fato, não raro, até, por falso corporativismo, por associação com o ilícito, com o imoral e com o antiético. O corporativismo é sadio quando se manifesta em causas justas. Fora disso, é apenas a voz da batata do mesmo saco protegida por tênue verniz de respeitabilidade. E mais virá, porque outros livros virão. Democracia, amigo, democracia! Por isso tão odiada por alguns. Não é coisa para carreiristas fracos, oportunistas e carentes de têmpera que preferem resvalar pelos desvão da vida do que expor-se à luz, à verdade, fazer face ao mundo com destemor.
O Brasil passa por um momento histórico demolitório, o blog tem tratado disso com frequência. Tomam-se as eleições municipais por referência, por oportuno, e alinham-se o texto de dois artigos anteriores, o primeiro de quatro anos atrás, recente, o segundo. Basta compara-los, cotejar com as circunstâncias correntes e constatar o desenvolvimento do processo. O país não sairá do fundo do poço, onde está, com a falta de rumo que o move provocada pelo imobilismo, de um lado, e pelo excesso de mobilismo, de outro, que procura alcançar metas pessoais sem nada que implique interesse comum, nacional. Há caminhos, creiam, já se tratou também disso por aqui, pautados pela Constituição, pela lei e pela ordem, e nada do caminho das pedras, caminho mesmo, roteiro, planejamento, programas, talento administrativo, coisa para quem é do ramo, afeito ao trabalho, e quer de fato servir ao país e à sua gente. Ainda dá tempo, mas é urgente. Cobremos definições.
COMBINANDO FATOS —REVISTO
Segunda-feira, 31 de Outubro de 2016
Numa primeira visão, as eleições municipais revelaram uma derivação centro/direita bastante sugestiva. O grande eleitor foi a crise, atribuída exclusivamente às esquerdas, logo, eram elas que deveriam ser punidas. E foram. Considerações mais abrangentes, no entanto, mostram fatores outros, relevantes. Não temos uma inflação de demanda; as vendas estão abaixo das médias históricas, o dinheiro anda minguado num país de 12 milhões de desempregados em comunhão com subempregos oscilando entre 40 e 50% dos sem trabalho, indicando matematicamente, na prática, algo como 17 milhões, talvez um pouco mais, de consumidores fora do mercado. Então, conclusão lógica, a inflação é de custos. O grande problema está em que a Administração, com apenas 9% (nove por cento) de aprovação e inteiramente dedicada a agradar as finanças internacionais, adota uma política de juros altos que (1) inibe ainda mais o consumo e (2) tira dos homens de negócios o oxigênio do crédito sadio, essencial à atividade econômica. Outra conclusão lógica, a tendência é a de que os custos continuarão subindo e o emprego caindo. Tomara que não!
O centro/direita apostou alto, mas não há recursos para satisfazer as expectativas criadas e as promessas de recuperação, já sem credibilidade, uma sucessão de teatralidades fartamente noticiada para sustentar o que parece insustentável. E, se de seu turno eleições municipais não são lá essas coisas como termômetro para 2018, no quadro atual os seus resultados deixam claro o recado das urnas: Vocês disseram que a responsabilidade era deles, pois bem, ai estão os seus mandatos, mudem para melhor. Não adiantam explicações de que escangalharam demais, é tarde para esse discurso. Consequência: O ganho de agora será perdido com juros em 2018, salvo inesperados. Teto? Vai piorar tudo, a movimentação de dinheiro vai encolher ainda mais e com isso a situação geral piora. Menos dinheiro em circulação é tudo o que não precisa a Economia depauperada de um país em desenvolvimento, juros altos em plena crise idem. Foi isso o que fizeram as potências econômicas quando se viram a braços com a crise, ou justamente o inverso, derrubando os juros ate ao zero? Juro alto e encolhimento do meio circulante para debelar inflação de custos numa época de queda vertical da demanda e despencar de vendas? Claro, lógico e evidente, está tudo errado, embora efusivamente festejado. Mas não basta cortar juros sem dar ao mercado consumidor condições de se desenvolver, ampliar-se; apenas cortar juros, mas inibir o consumo pela retirada do potencial econômico/financeiro do cidadão comum, afetando negativamente o mercado de trabalho, não é apenas mentiroso, é criminoso. É a hipótese em que o juro baixo direciona-se para quem não tem a aflição de comer, por exemplo.
Economicamente falando, e para obtenção de resultados concretos e duradouros, rejeitada a maravilha festiva dos fogos de artifícios, bonitos, mas fugazes, a ênfase deve ser posta nos custos; administrar uma Economia em crise é, em ultima análise, controlar e adequar custos, não aumenta-los. Algumas horas depois de aprovar a segunda rodada do “teto”, a Câmara Federal de Deputados aprovou o aumento dos próprios salários, não foi isso? O Brasil, debatendo-se, precisa de uma chance real, não pode continuar nesse caminho.
NÃO NOS RESTAM ALTERNATIVAS
Segunda-feira, 11 de Julho de 2020
Acabou-se o tempo para academismos e manobras diversionistas.
Entramos em outro tempo, o da experiência, das medidas necessárias e da eficiência.
Ou não teremos tempo para mais nada, senão para o desastre.
São recorrentes os temas econômicos suscitados pela angústia da anormalidade global provocada pela pandemia, entre eles, em momentos diversos, como matéria de estudos, o capitalismo em suas várias formas. Para começo de conversa, capitalismo é como cocada; amarela, “queimada” ou branca, todas têm a mesma forma e sabor, com ligeira diferença na cocada preta, que aqui entra como Capitalismo de Estado, já rotulado de comunismo, e como designação de reinados ilusórios. O tema, digressão acadêmica característica, tem por astro incontestável o capitalismo liberal, pretendendo-se deste uma vertente, o capitalismo “meritocrático”, puro pedantismo e extensão manipulada de uma ideia comum. Teorizações sobre capitalismo, especialmente sobre o capitalismo liberal, são, de fato, exercícios de retórica.
O capitalismo, como derivação da Economia Capitalista, é uma criatura bem terra a terra, não exibe nenhuma propriedade acadêmica e labora sempre no sentido de produzir algo comum a todas as suas denominações, o lucro, seu objetivo fundamental, cruamente convolado em dinheiro, sua alma, que se propaga, um produto necessário de uso geral. É impossível falar do Capitalismo sem falar do Capitalista clássico, para quem a ideia central de sua atividade é o lucro justo por meio da concorrência, que faz o mercado e legitima o Capitalismo. Esta é, contudo, uma imagem idealizada. Duas observações determinantes: O Capitalismo em geral nunca se preocupa com a natureza do seu lucro, se é justo ou não, ou se é fruto da concorrência; para operar na plenitude precisa apenas de infraestrutura econômica, a formação da concorrência não entra em seus cálculos ou considerações, prevalecendo em qualquer hipótese a ética do mais alto lucro. O Capitalismo é de irreprimível índole multiplicadora e, muitas vezes, não se detém em elucubrações morais ou escrúpulos.
Voltando-nos para o mundo em que vivemos, a perspectiva é preocupante, sendo certo que é nesse mundo que o Capitalismo terá de operar nos próximos anos. Os ciclos econômicos demolidos pelo vírus, a redução do comércio mundial e a consequente redução da produção trazem em seu bojo o desemprego maciço com as resultantes da pobreza extremável à miséria, efeito que se alastrará por resultado do Globalismo, cujo modelo, como adotado, não foi bom para ninguém. O comércio internacional tornou-se predatório, com as Economias de salários miseráveis e primitivas condições de trabalho operando externamente com custos baixíssimos e concorrência a beirar a deslealdade, estimulando as desigualdades que reduzem parte da humanidade a vidas degradantes e injustas.
Os mercados internos, notadamente dos países com estrutura industrial, qualquer seja o sacrifício exigido, têm de ser recuperados para constituírem-se polos de consumo num primeiro momento e depois bases produtivas que criarão empregos, por sua vez geradores de renda e consumo a puxar para cima a produção, estendida para além das necessidades locais, restaurando as vias do mercado internacional e inaugurando um trabalho de longo prazo com vistas ao comércio exterior. Embaixadores têm de se tornar vendedores e as Embaixadas transformarem-se em escritórios comerciais por trás dos quais deverão estar todas as forças produtivas de cada país.
Por aqui, temos de buscar recursos onde quer estejam. Nosso Capitalismo de Estado, anjo bom dos subsídios aos empresários, acentua desigualdades, que não são pequenas; os setores responsáveis, inertes quanto ao volumoso débito empresarial com a Previdência, o que, no mínimo, dobra o valor das aplicações de dinheiro público em tal segmento econômico, concorrem para o não retorno de nenhuma espécie dos investimentos feitos.O governo federal despeja recursos nas Empresas que, além de não oferecerem contrapartida, não cumprem suas obrigações previdenciárias e ainda demitem, transformando-se em elemento complicador ao invés de ser parte da solução dos nossos problemas estruturais. O modelo atual de relacionamento governo/empresários precisa ser revisto e um plano “B” necessita ser formulado para prevenir retaliações como desabastecimento ou demissões em massa, por exemplo. Isso pode ser feito. Paralelamente a retomar as atividades, temos de recuperar a atividade industrial e coloca-la sob controle governamental, controle, não ingerência, não podendo ficar de fora a elaboração de um plano industrial para o país. Disciplinar as indústrias é tarefa indeclinável e inadiável do Governo Federal.
Nosso grande problema é político, consequência direta do poder econômico, sem deixar de lado o nosso atuante mercado da instabilidade. Não formamos, não temos, uma consciência econômica, elemento administrativo dos mais relevantes; o planejamento é gerado e nasce de suas entranhas.
Nossa Economia é também essencialmente política e a Administração, de certo modo, refém da Classe Empresarial; sem mudar esse quadro não alcançaremos a estabilidade e as condições sob as quais nossa recuperação econômica deverá ser buscada, corrigindo-se no ínterim os subsídios e procedendo-se à realização dos créditos fiscais que, por motivos desconhecidos, não inscritos na dívida ativa ou não executados eficientemente, acabam perdidos, uma outra forma do dinheiro dos impostos e contribuições obrigatórias beneficiar Empresas e modo perverso, como são todos eles, de transferência de recursos pobres → ricos que alarga o enorme fosso já existente entre eles. Por constituir objetivo fundamental da República, o Artigo 3º da Constituição Federal precisa ser melhor estudado e aplicado. Em função dos nossos pecados administrativos e sociais históricos, não nos recuperaremos jamais se as matérias de que trata o dispositivo constitucional não forem adequadamente equacionadas e transformadas em políticas de Estado, não de Governos.
Passa por esses caminhos a tomada de posição quanto à minoração dos efeitos da pandemia. Quem estiver bem fornido de recursos, os beneficiários de robustas e desiguais aposentadorias públicas, aqueles que tiveram dinheiro para prevenir as doenças e a velhice não terão problemas maiores, mas o povo em geral estará sozinho, entregue a si mesmo, como já acontece. Essa tragédia nacional que atinge algo como 50% da população está esboçada.
O tempo é curto, não precisamos de uma guerra santa, o púlpito está manchado pelas mortes desnecessárias de milhares de brasileiros. Nossa pandemia assumiu caráter político, nosso dia a dia é político, nossas relações pessoais perderam-se em insuportável negror político. Perdemos os limites, estivemos à beira de uma “revolução cultural” cujo estofo terá sido e ainda é a nossa cultura da violência. Lamentavelmente as portas do inferno ficaram entreabertas.
Nunca estivemos tão em face de nós mesmos quanto agora; cabe à parcela consciente da população agir, a Constituição Federal numa das mãos, os Códigos Judiciários na outra. Não nos restam alternativas, temos de construir um outro Brasil, temos de nos transformar como nação ou não vislumbraremos sequer a oportunidade de viver num país ainda que medianamente civilizado, bem menos cumprir essa obrigação, que é de todos nós, dívida que temos com o Brasil, que nos pertence, e com os brasileiros do futuro a quem o seu país não pode ser negado.