ECCE HOMO
Una storielle ombrata, meno per Pilato (Giovanni, 19:5) e più per Jung e la psicologia analitica del lato oscuro della psiche
Suas certezas exibem um “quê” de metas pessoais, nada a ver com as “urgências prementes” da fome, do desencanto, do abandono, da infelicidade de milhões de pessoas sem perspectivas, sem assistência, sem trabalho, sem comida. Seria demais pedir um mínimo de respeito a essa gente sofrida, “sem chão”? Porque, com isso que aí está, e com o que chamam reformas, as coisas para essa gente maltratada só vão piorar. O que será feito dela? Ou trabalho, ou direitos, os dois, juntos, não cabem na nova sociedade futurista brasileira — foi avisado, assim mesmo, com frieza, de viva voz —, nesta declaração o desprezo absoluto por tudo que não ecoe os interesses das empresas vocacionadas para o Engenho de muitos senhores e regime semi-escravista, e da ação da classe dirigente, esta a serviço daquelas. Não estamos no século XVI, mas encostados no fim do primeiro quarto do século XXI. Trabalho e direitos não se negam, posto ser essa a essência da existência humana, civilizada. Dá para caminhar tranquilo para esse futuro sem amanhã? Semi-escravidão não oferece perspectivas animadoras; na semi-escravidão vitalícia a aposentadoria é uma miragem, mais se caminhe no seu sentido, mais se trabalhe. O Engenho não tem alma, tem interesses. Não deixa de ser uma paráfrase; você identifica de onde vem, a frase original? Vem do mesmo lugar onde o portador do vírus morre se não tem dinheiro para pagar o médico, razão primeira da altíssima taxa de mortalidade, inspiração, também, para mascarar o propósito de a pouco e pouco, senão acabar, provocar rombos paralisantes no único sistema estatal gratuito de saúde pública do planeta com argumentos sofísticos para entrega-lo a quem ou a quê? Ao Engenho de muitos senhores! O “gratuito”, pois, aqui, não é redundância.
Quando começarão as proibições explícitas? Quando será verbalizada a proibição de pensar com a própria cabeça? A Constituição não perfilha George Orwell, “1984”, Polícias do Pensamento, Big Brothers. Mas, e se, extra-oficialmente, isso já estiver entre nós? Nossa Sociedade se está afogando em ódios, estamos caminhando céleres para o ‘é proibido discordar’? Chegou-se a viver por aqui um certo “clima” de pão e circo, só que para milhões de pessoas nestas nossas bandas o pão se foi e o circo ficou sem graça. Os atores esqueceram-se do dispositivo, pequeno e poderoso, que varre das telas as caras feias que estão se multiplicando, tantos são os candidatos a caudilhos, para ser classicamente correto. Repete-se o que já não pode ser novidade para você; no meio deste parágrafo o desajustado de plantão acionou os seus controles, copiou este texto, não certamente para imprimi-lo, emoldura-lo e dependura-lo na parede do quarto como inspiração de bom comportamento. Agora, outra vez. De propósito, para ser notado, como a dizer, copio sim, e daí? Você não se dá conta do que isso implica, do que esse tipo de ação significa? Não é apenas arrogância, é especialmente deboche. Da Constituição, da cidadania, da lei, dos segmentos ordeiros da Sociedade em que vivemos. E quando chegar a sua vez — se é que ainda não chegou —, o que fará o distinto? Viva o cabresto, o bridão, a canga? O dar o lombo para o látego, para a chibata?
O Brasil viveu a grande mentira do déficit da Previdência até a CPI do Senado derruba-la, verificado com todos os “esses e erres”, pingos nos ii’s, vírgulas e pontos que há dinheiro na Previdência até mesmo para aumentar o atual teto das aposentadorias, é dizer, não falta dinheiro, sobra! Mas, curioso, ninguém deu bola, tugiu ou mugiu! Todos praticamente calaram, um comentário aqui, outro ali, o próprio Senado aparentemente indiferente ao resultado de uma CPI da casa, omitiu-se. Terá ainda autoridade para falar em CPI”s, quando ignorou uma das mais importantes contribuições da República e da democracia a apontar a verdade e o caminho para o início da real e mais necessária dentre quaisquer reformas de que necessita o país, a adequação e redimensionamento institucional? A Casa tem instrumentos para dar cumprimento às suas decisões; ou a validade das CPI’s é seletiva, depende de quem as promove ou preside? Assim, a pergunta permanece e é atual, vale para amanhã, amanhã, quatro de Novembro de 2020: Por que essa correria toda, essa afoiteza em tratar de assuntos que podem esperar, que não são essenciais, que certamente desviam o Congresso das questões de fato urgentes. O poder está na pauta? Pois que seja reformulada! Ou o poder não é do povo, por extensão daquilo que efetivamente interessa ao povo?
As prioridades nacionais são outras, desemprego e fome, a esquematização de investimentos imediatos — há onde buscar dinheiro para isso, como há!.. — para destravar a Economia, por exemplo, assuntos relativamente aos quais as reformas postas em tela em nada influirão ou contribuirão para melhor. Só piora, por suas inadequações, é matéria paralela, não é a Economia, essa sim, necessitada de toda a atenção. A Economia é a grande prioridade. Estamos vivendo uma mentira após outra enquanto o país anda para trás, pioram os índices, a fome uma realidade pavorosa. Uma outra pergunta já feita: De onde os salões perfumados das classes favorecidas pensam sair comida para os nossos milhões de desempregados e desesperançados que já nem emprego procuram, para os que vivem abaixo da linha da pobreza absoluta? Sem trabalho, sem emprego, órfãos de toda assistência, não sai de lugar nenhum, eles se viram, comem muito mal ou não comem, não vivem, apenas existem. Os desesperançados, desiludidos de buscar emprego, não existem sequer para as estatísticas; para boa parte da seleta sociedade engalanada e suas facilidades frutos do dinheiro público originado dos impostos pagos por esta pobre gente quando consegue comprar um pouco de feijão, arroz, fubá, sal e óleo de soja ela não é, nem será. Parece que ninguém está preocupado com ela.
Quem não é ou será não tem renda, não tem nada, não preocupa nada, só tem expandida a própria infelicidade. Isso é alarmante! Essas pessoas precisam de trabalho, precisam comer!
Como inspirar atitudes positivas quando se está perdendo a quase nenhuma credibilidade restante? É preciso perspicácia camaleônica, maturidade e jogo de cintura para ultrapassar os mal-intencionados de sempre nesses momentos, a defenderem interesses próprios e de terceiros que nada têm a ver com os interesses gerais, do país; conhecê-los em suas tolas momices, banalidades e pequenezas é o melhor antídoto contra a primariedade de sua natureza destrutiva, degradante, mas muitas vezes ingênua.
Não faltarão as cassandras a predizerem desgraças, dificuldades e confusões monumentais se o Congresso não fizer isso ou aquilo, no fundo, no fundo, aquilo que interessa a uns mas não interessa à população em geral. Mentiras, terrorismo direcionado para a satisfação de interesses. Como não faltarão os pusilânimes e os pobres de espírito, tementes da cidadania independente, dos sacrifícios naturais normalmente exigidos dos homens de têmpera que atendem ao chamado da vida no sentido de darem o melhor de si mesmos para dela receberem muito mais do que derem, maior seja o seu sacrifício, com a certeza de que se bastam, não pedem favor nem licença a ninguém para viverem decentemente e não querem tolhida sua liberdade de traçarem os próprios destinos e o destino do seu país, ao invés de tê-los, a liberdade e o seu país, outorgados por outras forças que não a Constituição Federal e a lei ordinária.
O Brasil tornou-se um país de ódios, miséria, fome e vocações autoritárias onde se identifica uma acentuada tendência de esganar quem pensa em contrário, uma quase-patologia; a vida humana, tratada com indiferença crescente, passou a ser liquidada por atacado pela pandemia e em razão de se haver banalizado a extinção de seres humanos, ainda os panos quentes e os discursos vestalinos por trás dos quais, verifica-se com horror, podem estar interesses comerciais e o desapreço por vidas sem utilidade material e política, que não se prestem ao jogo político, nenhum escrúpulo, nenhum resquício de humanidade. Gente deixou de ser gente para ser tratada como peças em um tabuleiro de “damas”, que o xadrez é demasiado profundo para a realidade existencial do momento absurdo que estamos vivendo. Os “não-operacionais” não contam, tanto faz comam ou não, tanto faz vivam ou não, mas, que, se vivos, votem, tangidos por discursos virtuosos que na realidade visam metas pessoais, poder, a expansão do caos, a divisão para dela tirar proveito.
O país está exposto a violências diversas, parecendo, por tudo o quanto se vê e ouve, que nada existe em nosso dia a dia além de violência, por trás de cada gesto aparentemente cordial, por trás de cada discurso adocicado ou projeto pretexta-damente benéfico uma grande raiva contida a que o homem comum, do povo, não deu causa.
Temos vivido um vendaval de paixões polarizadas e histéricas. Há um desejo latente, já adotado por grande parte da população, de valorizar a vulgaridade e o homem dito ‘normal’, aquele que só reproduz os piores valores de nossa ignorância, sem sonhos nem fantasias, num horizonte sombrio e sem surpresas. O homem armado que vive para a morte. Ou pela morte. (Cacá Diegues, O Globo de segunda-feira, 18 de Março de 2019, página 03).
A violência crua, estúpida e súbita vem das ruas, que de certo modo, salvo as fatalidades, dá oportunidades de fuga, de distância, mas temos a violência mais para tortuosa do que para elaborada, mais para maliciosa, planejada e perversa do que para salvadora, vinda dos gabinetes, sofisticada e abrangente, que tolhe e tiraniza surdamente, sem chances de escape.
Neste começo de semana sugeriu-se tolerância a uma pessoa próxima. É preciso entendermos definitivamente que o outro e tão cidadão e tão senhor de direitos quanto nós próprios, tem opiniões e não pode ser impedido de manifesta-las; já se está dificultando por modos diversos a edição e publicação de livros, dou o meu testemunho pessoal. É o estágio em que a luz vermelha começa a piscar. Temperamentos totalitários odeiam livros e só entendem por liberdade as facilidades concedidas por eles, a infâmia em seu grau mais torpe, um horror, uma vergonha. A liberdade pessoal, só circunscrita à lei, está sendo descaracterizada, pois apenas se pode entendê-la de modo deformado quando a má-fé impera: Discute-se, hoje, no Brasil, se a vacina contra o vírus deve ser opcional. Ninguém pode ser tão ignorante do Direito: O vírus, um problema de saúde pública, contagioso, é um perigo real e mortal que o Estado tem a obrigação constitucional de combater; o interesse coletivo prevalece ao individual, isso é um princípio jurídico, logo, a vacina tem de ser obrigatória. E ponto!!!
No plano geral os déficits se avolumam, não provocados pelo homem comum, senão pelas elites, aqui excluída a suspeita bobagem da chamada Sociedade Civil, posto ser a Sociedade uma só, distribuída pelos seus diversos segmentos. “Soluções” fundadas em inconstitucionalidades e ilegalidades não levarão a lugar nenhum, tentativas que são do exercício de autoritarismos e desvios que nunca resolveram verdadeiramente problema algum, apenas agravaram os existentes e provocaram, a médio e longo prazo, novos problemas. O Brasil está urgentemente necessitado de sensatez, além de muito trabalho, competência e equilíbrio.
Pensemos a respeito.