O BRASIL
O BRASIL
Há um bocado de gente estranhando, gente habituada a ganhar no grito, gente para quem a lei só é boa
quando a favorece, quando a constituição federal é vilipendiada na prevalência dos seus apetites. O estado de
direito a incomoda profundamente.
Teto de gastos e prorrogação da ajuda emergencial não combinam. Teto de gastos é também desafeto dos investimentos públicos necessários à derrubada do desemprego estratosférico, assustador, e do aplainar da vereda da reativação estável da Economia. Menos mal, o Congresso colocou as castanhas da navegação costeira no forno e elas já estão estalando; bem conduzida a questão, daí pode surgir uma fartura de empregos, não apenas nas operações, mas também extra-operacionais. Viva-se e trabalhe-se o momento, estendam-se as linhas, façam-se necessárias mais embarcações e os estaleiros entrarão em cena; são também grandes empregadores. E dinheiro novo será injetado no mercado interno, que alavancará a indústria, a atividade econômica em geral. O blog já falou com detalhes das duas coisas, do teto de gastos e da navegação costeira. O Brasil, colocado no leito de Procusto, está imobilizado de tanto ser retalhado para caber na cama que lhe foi preparada.
Estado mínimo não existe, o que existe — e deve existir — é o Estado adequadamente dimensionado. Bom, não é o que temos, incharam-no, o mal é antigo. Mas sobre o que interessa, mesmo, ninguém fala, sua racionalização, que não pode ser feita por canetadas, repito, que é tarefa para quem é do ramo. Discute-se o sexo dos anjos em frentes diversas, até a dívida pública entrou no jogo. Fogo de diversão? Parece! É discussão absolutamente extemporânea, boba. Ou esperta demais? Desvia a atenção do que é de fato importante. Planejamento vai soar como palavrão, mas é antecipadamente necessário, um plano industrial, um orçamento com temperamento de business plan, a reinserção do país no cenário internacional, a volta do Brasil ao seu modelo diplomático tradicional, o controle da moeda por meio diverso do atual, evitando-se o absurdo sobre o qual não se fala de “torrar” as nossas reservas internacionais para segurar o preço do dólar americano, uma contribuição especial à jogatina com a qual uma porção de gente ganha e o país só perde. E o hacker ativo, copiando o que escrevo. O câmbio, gente, o câmbio!
O blog inaugurou-se no dia 28 de Dezembro de 2010, daqui a 17 dias completa 10 anos. Os posts iniciais serão republicados. Ao longo desses anos, dívida pública, desemprego, Previdência, relações de trabalho, teto de gastos, reforma trabalhista, navegação costeira, ferrovias, nosso PIB ridículo para o nosso potencial e matérias essenciais outras foram objeto de análises. O que precisamos, de fato, é controlar os nossos custos — que nada tem a ver com teto de gastos — e adequar as nossas estruturas, suprimir privilégios e educar. Sem um povo educado, que possa entender as regras democráticas, valorizar o trabalho e apostar na eficiência nenhuma Economia deslancha; é necessário capacitação humanística, que abranja as relações sociais no contexto geral da construção de uma Sociedade justa e próspera à força de uma visão de mundo que enxergue o papel de todos e cada um no desenvolvimento do país, que precisa ser reconstruído, racionalizado, não diminuído para abrir caminho para o seu controle por grupos endinheirados que não estão nem aí para as populações vulneráveis. Não temos que vulnera-las ainda mais.
É preciso ver na Previdência Social uma chave de absoluta valia na reorganização da Economia, para resolver boa parte dos problemas com a Saúde e deixar-se o SUS para os pobres, de fato, ou desempregados. Nada tem a ver? Tem tudo a ver. E há um problema seríssimo que não pode esperar muito por equacionamento. A partir do início da década de 1890 os EUA partiram para a internacionalização dos seus negócios, e o fizeram de forma agressiva e global; começando antes da metade do século passado com Mao, a paciência e o método chinês construíram uma Economia que inundou o planeta com os seus produtos e investimentos hoje presentes em maior ou menor escala em todos os mercados mundiais, com ampla penetração na América do Sul, onde o Brasil, por suas dimensões, população e expressão econômica tem uma posição de absoluto destaque. Nós conseguimos o milagre de nos incompatibilizar com os dois países, que nos dominam, da louça do café da manhã à pasta com que escovamos os dentes na hora de deitar, à noite. Se a China parar de repente de nos fornecer insumos, ficaremos sem remédios, a nossa indústria pára em grande parte. Por outro lado, não pode passar pela cabeça dos governos de nenhum dos dois países abrir mão do nosso mercado e das nossas conhecidas fraquezas. Ao contrário, a solução para eles será aumentar mais e mais a presença no Brasil. Por quaisquer meios. E somos muito sensíveis a isso. Nosso território será transformado em campo de batalha e nós, a população em geral, em massa de manobra. Não é maldade, é a lógica da sobrevivência e da prevenção de problemas com as suas próprias populações.
A tradição da nossa Diplomacia, amplamente respeitada, precisa entrar em cena. A experiência e o talento diplomático dos nossos homens do Instituto Rio Branco têm um papel crucial a desempenhar na encruzilhada internacional em que nos encontramos. Esse é um assunto que não pode ser ignorado ou empurrado com a barriga, o blog voltará a ele.
Afinal, o Butantan fez a sua parte, direitinho, como sempre, planejadamente. Com as novidades dos últimos dias, a vacinação pode começar antes do dia 25 de Janeiro. Cada dia que passa são mais quinhentos, setecentos, mil brasileiros que se vão sem necessidade. Não é que a vacina, em si, vá resolver o problema no susto, de repente, mas vai quebrar a corrente sinistra da contaminação, liberar energias e recursos, começar a colocar o bonde nos trilhos, as cabeças vão funcionar melhor, o medo, esse vilão indesejado. “Doutor, não me deixe morrer”, disse a jovem de trinta anos ao médico que a atendia, formado há um ano, certamente um pouco mais novo do que ela. Arrasado, ele disse que vai levar a frase com ele pelo resto da vida. Um sofrimento imenso para os dois, para todos de nós com um mínimo de sensibilidade, está se tornando insuportável.
Logística? Já se cansou de falar nisso, formalidades e jogo de cena demais e eficiência de menos. São Paulo já tem a vacina e uma licença emergencial para ela a desatar-lhe as mãos. Que os burocratas não atrapalhem os profissionais. A Fiocruz alertou, vem aí uma baita encrenca, com a vacina na mão, vacine-se. Já não se aguenta mais ver tanta gente morrer, mortes, muitas delas, que poderiam e podem ser evitadas. Deprime, desqualifica. Tem gente falando em frigoríficos para depositar cadáveres; o que precisa é parar de produzir cadáveres, não ficar inventando lugar para guarda-los enquanto não sepultados. Roma, ouvida, já disse que o combate aos vírus diz respeito aos Estados, logo, decidir quanto à obrigatoriedade da vacinação e o seu início lhes cabe.Roma locuta, causa finita. Se há Estados que não querem assumir as suas responsabilidades, bem, não é de surpreender, mas deixem São Paulo trabalhar, que a isso os de lá estão habituados.
A Constituição Federal (Artigos 6, 196, 197 e 198), a Lei nº 13.979/20 e o posicionamento do STF quanto ao papel dos Governadores no trato do covid19 “conspiram” a favor da vida a partir dos executivos estaduais, não faz sentido esperar.