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PENSEMOS A RESPEITO - 4


REFERÊNCIA: Artigo de 19/20 de março de 2019


Atolados no lamaçal de uma França populacional de desempregados e dependentes, desesperançados da busca de empregos, gente faminta, incertezas de toda ordem e em especial à conta de uma balbúrdia orçamentária sem precedentes, o Brasil tem de comportar-se como o lagarto, que depende do calor direto do Sol para movimentar-se regularmente; é altamente recomendável ficar quietinho, pois qualquer movimento consumirá a sua energia básica, aquela que o mantém vivo, a despeito de gravemente enfermo, enquanto o Sol não lhe renasce.


Precisamos nos aquietar e cuidar da nossa vida, que não está nada fácil, patrícios passando fome em nosso solo, em todo caso esboçada agora a assistência que lhes é devida por força de não se lhes oferecer oportunidades de trabalho, de ganharem o próprio sustento com o seu esforço pessoal.


O país está em suspenso, um grande ponto de interrogação desenhado em cores gritantes no desenrolar da CPI no Senado da República. É necessário evitar prejulgamentos, embora se haja de ter presente a gravidade dos fatos até aqui revelados. Não se prejulga, julga-se quando o conjunto probatório se completa e o procedimento está maduro para tal, todas as provas levadas aos autos, privilegiado o princípio de que não está no mundo o que neles não está. O nosso senso de decência aconselha-nos a evitar por todos os meios a vergonha constitucional pela qual passamos ao assistir a Senhora Rousseff ser destituída da presidência da República sem qualquer nódoa que o justificasse, sem qualquer crime efetivo de responsabilidade certo e provado. Onde já se viu alguém condenado no tipo adequado de procedimento que deságua nessa classe de procedimento dele sair com os direitos políticos intactos? Na realidade, foram-lhe tirados dois anos de mandato que nos estão fazendo grande falta, considere-se o ponto a que o país chegou, a balbúrdia, a desordem, o lamaçal em que estamos atolados.


O Brasil tomou-se de ódios, miséria, fome e vocações autoritárias, identificando-se no país uma acentuada tendência a esganar quem pensa em contrário, uma quase-patologia em função da qual a vida humana, tratada com indiferença crescente, passou a ser liquidada por atacado e em virtude de se haver banalizado a extinção de seres humanos, ainda os panos quentes e os discursos vestalinos por trás dos quais, se verifica com horror, podem estar interesses comerciais ou absoluta indiferença por vidas sem utilidade material e política. Gente deixou de ser gente para ser tratada como peças em um tabuleiro de “damas”, que o xadrez é demasiado profundo para a realidade existencial do momento absurdo que estamos vivendo. Os “não-operacionais” não contam, tanto faz comam ou não, tanto faz vivam ou não. O país está exposto a violências diversas, parecendo, por tudo o quanto se vê e ouve, que nada existe em nosso dia a dia além de violência, por trás de cada gesto pretensamente cordial, por trás de cada discurso adocicado ou projeto pretextadamente benéfico uma grande raiva contida, mas sedenta de desmonte, de desmantelamento de qualquer traço de ordem existente.


“Temos vivido um vendaval de paixões polarizadas e histéricas. Há um desejo latente, já adotado por grande parte da população, de valorizar a vulgaridade e o homem dito ‘normal’, aquele que só reproduz os piores valores de nossa ignorância, sem sonhos nem fantasias, num horizonte sombrio e sem surpresas. O homem armado que vive para a morte. Ou pela morte.” (Cacá Diegues, O Globo, segunda-feira, 18 de Março de 2018, página 03)


A violência crua, estúpida e súbita vem das ruas, que de certo modo, salvo as fatalidades, dá oportunidades de fuga, de distância, mas temos a violência tortuosa,nada elaborada, maliciosa, planejada, abrangente e perversa vinda dos gabinetes, que tolhe e tiraniza sem chances de escape.


O Brasil, atento ao que se passa no Senado, está urgentemente necessitado de paz e sensatez; um mínimo de equilíbrio nunca fez mal a ninguém. Estamos precisados da observação estrita da Constituição Federal, de obediência ao devido processo legal e na expectativa de que a CPI se traduza em um Relatório concludente, “amarradas” as responsabilidades capitais às provas cabais, atendo-se aos fatos certos, provados e nos autos a fim de que, em se instalando fase posterior, se previna o afastamento pela simples leitura dos autos de quaisquer alegações de inocência ou pretensão de fuga às responsabilidades verificadas. É necessário evitar, igualmente, aquela outra e escandalosa vergonha de convocar-se a imprensa para “demonstrar” com o uso de aplicativo da Microsoft, num show patético e jamais testemunhado nas lides judiciárias do país, “culpas” inexistentes e responsabilidades fabricadas para produzirem condenações injustas e desumanas adrede concebidas para roubar longos e preciosos dias de vida. O único lugar de provar fatos condenatórios são os autos de processos presididos por juízes processualmente competentes no foro devido.


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